quarta-feira, 26 de junho de 2013

Vai um chau min?



Quem não gosta de um delicioso chau min? Nem todos os restaurantes o sabem fazer crocante e saboroso como “deve ser”.  
Os apreciadores encontram-na agora só nos mercados, junto de produtos de soja ou nas tasquinhas antigas, que têm receitas tradicionais.
Existem várias qualidades de min já que esse é o termo que designa genericamente a massa feita de trigo. Aplica-se, por exemplo ao pão (min pau), e mesmo aos “diabos fritos em óleo” — que hoje se designam por tchá-min (massa frita) para, ao que parece, evitar a agoirenta referência ao “rabudo” na linguagem do dia-a-dia… não vá ele tecê-las! 
As massas têm espessuras diferentes e por vezes variam também os “aromatizantes” naturais incluídos no seu fabrico. Uma delas, bastante antiga e muito apreciada em Macau, é a que inclui camarão, há-tchí-min.
Mais apreciada ainda, mas para servir em caldos requintados e em banquetes, é a ii-min, massa mais fofa (dir-se-ia que oca) que na fase de fabrico, passa por uma leve fritura em óleo antes de ser entregue aos clientes, lao-min refere-se à modalidade de massa fresca, que é também banhada em óleo pelo grossista, pronta a servir aos vários vendilhões, tendinhas e casas de pasto.
O segredo de um bom chau min, é não deixá-la cozer demasiado, e a massa deve ser “constipada” ou seja, dar-lhe uma fervura, depois passá-la num passador por água fria e secá-la bem antes de a fritar por poucos minutos, sacudindo-a para se soltar.
Há duas formas de fazer o chau-mín: temos o chau propriamente dito, ou seja, torrado e estaladiço, que é regado com os restantes ingredientes envolvidos num molho mais ou menos engrossado com fécula de milho, e o outro, kón-chau, apenas bem revolvido na frigideira, sem deixar torrar, e que incorpora todos os ingredientes, sem qualquer molho, para fazer jus ao nome em cantonense: “frito-a-seco”. É esse o mais comum, o que as cozínhas ambulantes um pouco por toda a Macau, servem, madrugada fora, por uma ninharia.
Ai que saudades daquelas tasquinhas que poliferavam nas ruas de Macau, que eram montadas nos passeios à noite e que nos deliciavam com os mais variados petiscos.
Nos anos 80/90 havia imensas tasquinhas dessas “semeadas” pelos passeios, a que os portugueses chamavam “caixotes do lixo”, por muitas vezes os contentores do lixo estarem ali perto… Foi numa rua, perto do Mercado Vermelho, que comi o melhor chau min da minha vida.
Tempos que já não voltam…

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Pequenas bonecas de luxo...


Um dia destes, assisti no canal televisivo da TV World, a um daqueles concursos televisivos infantis dos Estados Unidos, que me deixou boquiaberta, pelo desfile de “bonecas” de carne e osso, que agora está na moda e cujo lema é "que vença a mais sofisticada".
Mostraram os bastidores desses concursos de beleza infantis e as meninas iam sendo entrevistadas de uma forma adulta, uma delas confessou que adorava estar assim maquilhada e vestida, sentia-se feliz quando ouvia o público aplaudir o seu desfile, que queria ser como a Isabella Barrett e ter tanta fama e riqueza como ela.... Com cinco anos e é esta a ambição dela?! Que raio de ideias metem na cabeça destas crianças?
Fico pasmada como é possível haver um  tal programa, onde crianças a partir dos 4 ou 5 anos são preparadas para concursos, nada próprios para essa idade.
É um facto, que têm despertado algumas polémicas, pelo excesso de exposição destas menores de idade, muitas vezes levados a cabo pela vontade de mães frustradas, com a sua própria infância e que espelham nas filhas, o desejo de serem reconhecidas em processos de beleza, sem se importarem naquilo que essa criança se tornará mais tarde.
Estes concursos deviam ser PROIBIDOS.
É o gritante caso da Isabella Barret, que se tornou num ícone para outras crianças (ou para as suas mães?). Tem apenas seis anos, possui milhões de dólares e uma linha de jóias, roupas e maquilhagem para crianças. Como conseguiu tudo isto?
Através dos tais polémicos concursos de beleza infantis, muito em voga nos Estados Unidos, que acostumaram esta criança a conviver com a fama, com um estilo de vida cheio de luxo e glamour, permitindo inclusive, que participasse de um reality show, tornando-se numa “Little Miss America”, que sai em muitas revistas, jornais e em programas diversos na TV.
A carreira de Isabella começou aos quatro anos, na sua cidade, na Providence, Rhode Island, quando a sua mãe, Susanna, se apercebeu futuro promissor que poderia ter a filha como rainha da beleza infantil e inscreveu-a num concurso. Desde então, Bela, como é chamada, não pára, uma vez que a presença em concursos ou eventos é quase que uma garantia de sucesso. Isto valeu-lhe o convite para ser a cara de uma linha de brinquedos da rede americana Toys R Us.
Já lançou a sua própria empresa de jóias, a Glitzy Girl, e depois acrescentou uma linha de roupa e maquilhagem. O negócio conta com 42 empregados e acaba de facturar um milhão de dólares
- "Quem não gostaria de ser milionária?", disse a pequena numa entrevista ao Daily Mail. - "Sou uma super estrela, tenho a minha própria linha de jóias e simplesmente gosto de ser a chefe. Nunca perdi nada e em cada concurso que entrei, ganhei. Mas o que mais gosto são dos sapatos. Tenho mais de 60 pares", confessa a mini vedeta. 
Susanna Barrett, a mãe, incentiva a fama da criança e deixou-se seduzir simultaneamente com o sucesso da pequena Isabella, que já tem manias de diva. Por exemplo, a pequena fez um pedido de um prato que custava 2.200 dólares para a sua suíte de luxo, num dos hotéis cinco estrelas, onde se costuma hospedar quando viaja para os concursos. Usa vestidos desenhados especialmente para ela -10.000 dólares cada um-, segundo ostenta a sua orgulhosa mãe.
Susanna de 39 anos também mandou realizar uma prótese dentária móvel para o dente de leite que caiu, extensões de cabelo, unhas acrílicas e sessões regulares de raios UVA, para a manter sempre bronzeada.
- "Gastamos mais de 50.000 dólares quando começou a concorrer, mas olhem onde está agora; valeu a pena!", assegura a mãe, que é um constante alvo de críticas por "sexualizar" a sua filha e ganhar dinheiro com isso. Ela, não obstante, afirma que tudo é desejo da menina.
Mas uma menina com seis anos tem desejos destes? E... alguém tem dúvida qual será o futuro desta criança? Eu não tenho! A menina vai crescer com os valores distorcidos, e o resultado, quando a fama desaparecer, vai ser levada ao álcool e às drogas, como todos os outros exemplos de crianças que ficaram famosas.
E não há ninguém que prenda esta mãe?

terça-feira, 18 de junho de 2013

Desengano

Não rio para troçar de vós,
Palhaços histriões,
Hipócritas figurões,
Arranjistas tão inchados
como bolas de sabão.

Rio de mim,
Que me visto de arlequim,
A ver se não dou nas vistas
Desta minha inquietação…

Eu sei que na vida, é preciso disfarçar.
E eu quero esconder de vós
A minha alma,
Tonta menina sem calma
Que não se deixa macular.

Não rio dessa que tem,
o esgar em vez de sorriso
A traição atrás do beijo.
Daquela que traça o caminho
Entre o interesse e o desejo

Rio sim, desta verdade
(que é quase religião)
Desta fantasia louca
Que anda em mim a passear
E me leva pela mão
Obrigando-me a escutar
Cantigas de enlouquecer
Onde tudo quanto é bom
Ainda pode acontecer

Rio sim
Para essa imagem
Risonha ou tristonha
A transbordar do infinito
Que eu vejo no espelho
Quando me fito

Não rio da mascarada,
Suada,
Que luta e empurra
Apenas para passar
Porque algo mais apetece
E blasfema em voz rouca
Rio do beijo e da prece
Que ainda tem a minha boca

sábado, 15 de junho de 2013

O Melro


                    Muito alegre na floresta

                    O senhor melo aí cantava
                    Mas da montanha, a cotovia
                    Furiosa replicava:

                    -“Meu amigo, o teu trinado
                    Gosto muito de ouvir
                    Mas por favor! Canta baixinho
                    Tenho sono, quero dormir”.

                    O senhor melro muito triste,
                    Foi queixar-se a uma flor
                    Disse-lhe ela ao ouvido:
                    -“Não se zangue meu tenor
                    Ouvi-lo é uma festa
                    Digno de actuar com uma orquestra”

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Aniversário de FERNANDO PESSOA

Quem nunca ouviu falar de Fernando Pessoa? Quem nunca leu algum dos seus poemas? Não há quem não conheça um pouquinho deste célebre autor. Pessoa foi um apaixonado pela sua pátria e os supersticiosos dizem que a sua paixão por Portugal começou logo no dia do seu nascimento, 13 de Junho de 1888, dia de Santo António, padroeiro de Lisboa.
Fiquei a saber que hoje, dia 13 de Junho, é o 125º aniversário de Fernando Pessoa (a internet tem destas coisas), um autor que eu gosto muito de ler e que muito admiro. Por isso aqui ficam algumas palavras do Sr. Pessoa,

Acordo de noite subitamente.
E o meu relógio ocupa a noite toda.
Não sinto a Natureza lá fora,
O meu quarto é uma coisa escura com paredes vagamente brancas.
Lá fora há um sossego como se nada existisse.
Só o relógio prossegue o seu ruído.
E esta pequena coisa de engrenagens que está em cima da minha mesa
Abafa toda a existência da terra e do céu...
Quase que me perco a pensar o que isto significa,
Mas estaco, e sinto-me sorrir na noite com os cantos da boca,
Porque a única coisa que o meu relógio simboliza ou significa
É a curiosa sensação de encher a noite enorme
Com a sua pequenez..."

Fernando Pessoa